A cidade é uma colcha de retalhos e o jardim, pela dimensão, é a cristalização desta. É difícil imaginar, no século 21, a evolução do mapa de Paris, suas sucessivas muralhas, a construção de uma praça como a da Concorde ou os grandes bulevares de Haussmann. Mais que qualquer outro território, o jardim é o palco que melhor conserva a marca visível desses sucessivos deslocamentos da arquitetura da cidade. Esta fonte cuja imagem está inscrita na memória de milhões de visitantes nasceu gruta no século 17, antes de ser deslocada no século 19. Na época, o ciclope Polifemo veio debruçar-se sobre Galateia e Ácis, os três recém-saídos do ateliê de Auguste Ottin. Haussmann desejava traçar a rua de Médicis, e o deslocamento do conjunto permitiu que Alphonse de Gisors, arquiteto do Senado, desenhasse um açude de uns cinquenta metros. Não há nenhuma razão objetiva que dê a esse ícone garantias de eternidade. As marcas evolutivas da história inscrevem-se nos jardins, paralelas incertas de porvir aleatório.